quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Do "Made in China" Para o "Created in Chin"


Por trás da euforia dos mercados emergentes escondem-se problemas de gestão de pessoas que podem minar o futuro dos países desse grupo.

Por Natalia Gómez



O diretor de Relações Corporativas Internacionais da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-Nacional), Nelson Savioli, acredita que o governo precisa acelerar as medidas voltadas para preparação dos trabalhadores do futuro. "Essa é uma desvantagem competitiva do Brasil e já compromete vários setores", afirma. Segundo ele, o país tem pouca gente com educação formal ante o progresso que o país pode ter nos próximos anos. Esta questão, aliás, foi discutida durante evento realizado no início do mês passado pela ABRH-Nacional. Os esforços para reter capital humano e desenvolver talentos foram apontados como o principal desafio das empresas brasileiras até 2015 em levantamento feito pela Deloitte. Segundo José Paulo Rocha, sócio líder da área de finanças corporativas da consultoria, o Brasil tem como vantagem uma oferta crescente de força de trabalho devido à juventude da sua população, mas a baixa qualificação é um problema crescente para as empresas.

Para ganhar tempo, a iniciativa privada está se aproximando das universidades, além de investir mais pesadamente em treinamento. Segundo Alexia Franco, diretora da Hays Brasil, empresa de recrutamento, muitas empresas mandam funcionários para treinamento no exterior ou trazem pessoas de outros países para dar cursos no Brasil. "É uma forma de acelerar o processo de formação, mas de qualquer forma prevemos um gap considerável no mercado de trabalho", afirma. Esse cenário tem trazido de volta ao Brasil executivos que haviam deixado o país em busca de trabalho no exterior. Segundo Alexia, a maioria das oportunidades é para cargos sênior porque é difícil encontrar pessoas com experiência no mercado interno. A falta de pessoas com esse perfil é mais gritante em setores como construção, energia e óleo e gás, em que existe um grande número de pessoas jovens ocupando cargos altos, mesmo com pouca experiência. Como consequência, surgem problemas de gestão e também de nível técnico, já que os encarregados não têm grande vivência na área.


Conhecida como o país da mão de obra barata, a China trabalha para mudar de perfil. A ideia é transformar o padrão "made in China" em "created in China". E ainda existe a perspectiva de esse país passar o Japão e os EUA no que se refere à inovação em 2050

Exemplo chinês
Conhecida nas últimas décadas como o país da mão de obra barata, a China está trabalhando para mudar o perfil da sua economia. A ideia é transformar o padrão "made in China" em "created in China", com maior uso de tecnologia, valor agregado e criação de marcas com boa reputação, de acordo com relatório divulgado pela consultoria The Boston Consulting Group. Para isso, será preciso desenvolver e atrair novos talentos. Segundo a diretora do Instituto de Estudos Brasil-China, Anna Jaguaribe, a China se ressente da falta de profissionais no setor técnico de nível médio, e está trabalhando para oferecer treinamento nessa área. No entanto, grande parte da lição de casa está adiantada, pois as universidades locais receberam grandes incentivos do governo desde os anos 80. 

O primeiro salto ocorreu no campo das ciências e da engenharia, que é uma tradição dos chineses. Segundo Anna, todos os grandes líderes da história da China eram engenheiros. Em seguida, o país apostou no ensino superior nas áreas de biologia, medicina, nanotecnologia, genética e informática. O terceiro passo, a partir de meados dos anos 90, foi desenvolver as universidades na área das ciências sociais. Segundo ela, a China começa a se destacar em economia, sociologia e história.

A grande obsessão dos chineses, atualmente, é criar os produtos que são criados localmente, o que deve ser atingido no longo prazo. "Existe a perspectiva de que a China passe o Japão e os EUA em inovação em 2050", afirma. O objetivo é deixar para trás o estigma de força de trabalho barata e foco em exportação, dando espaço para a mão de obra especializada e inovadora, mais baseada no mercado doméstico.  "A China está se exaurindo de mão de obra barata e vai precisar cada vez mais de pessoas mais especializadas devido ao avanço da indústria", observa Anna. Na visão dela, a principal diferença entre o Brasil e a China é o planejamento. "Os chineses se preparam para o que acreditam ser a próxima etapa do seu desenvolvimento", diz. Outra diferença é que o Brasil terá de lidar com diferentes desafios ao mesmo tempo, já que precisa aprimorar outros itens prioritários, como a infraestrutura.

Em junho de 2010, o governo chinês divulgou seu plano de desenvolvimento de talentos para criar uma força de trabalho qualificada para a próxima década, chamado The National Medium - and Long-Term Talent Development Plan (2010-2020) . É o primeiro programa nacional para recursos humanos do país. A China planeja aumentar sua oferta de talentos dos atuais 114 milhões de pessoas para 180 milhões de pessoas em 2020. Segundo Elias Jabbour, doutor em geografia humana pela USP, o Brasil também deve pensar a educação como parte de um projeto nacional de desenvolvimento, para garantir uma relação de equilíbrio entre a oferta de trabalhadores qualificados e o mercado de trabalho. Ele afirma que a China tem um projeto muito claro, que incluiu investimentos de 130 bilhões de dólares em educação básica e média nos últimos oito anos. 
Fonte: http://revistamelhor.uol.com.br/educacao-saude/283/artigo224042-2.asp

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