sexta-feira, 16 de abril de 2010

O mundo no país de Lewis Carroll

Eu, minha avó Ushy, Alice e Anshel.


Teatro Negro de Praga-Alice no País das Maravilhas


No dia 2 de fevereiro, aqui mesmo no Joalheirando, postei sobre as jóias inspiradas em Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll. O título era As Jóias no País das Maravilhas.


http://joalheirandomairadahora.blogspot.com/2010/02/as-joias-no-pais-das-maravilhas.html


Hoje pela manhã estive falando com um mega amigo gato e super inteligente e então resolvi completar o "post". Acho que deixei muita coisa no ar, não falei o que me tocou desde sempre em Alice no País das Maravilhas e Alice do Outro Lado do Espelho. Eu sabia, que tinha muito mais para falar. Vou começar com o Jaguadarte e a poesia do espelho.



A versão completa de "Jabberwocky"ou Jaguadarte encontra-se no livro Alice do Outro Lado do Espelho, continuação de  Alice no País das Maravilhas. No livro, apenas a primeira quadra é apresentada ao leitor pelo avesso porque Alice percebe que Jaguadarte é um Poema-Espelho e, por isso, recita-nos o poema ao contrário.
O poema foi tão importante para a língua inglesa que a palavra "jabberwocky" é definida nos dicionários e aplicada na linguagem como substantivo, adjectivo ou verbo (em português quer dizer qualquer coisa como, digamos, uma tolice sem sentido). Também outras palavras inventadas por Carroll neste poema fazem agora parte da língua inglesa como "
chortle", rir ou cantar a bandeiras despregadas e "galumph", galopar como um tolinho.





Tenho a minha versão do "Jabberwocky" ou Jaguadarte, esta peça eu a confeccionei em junho de 2009 para a minha primeira exposição em Ushuaia, na Terra do Fogo Argentina. Não resisti, é muito representativa, porque se diz que a Terra do Fogo é também o Fim do Mundo e lá vi a seguinte frase: "Fim do Mundo, Começo de Tudo". Foi como ler o Jaguadarte no espelho, foi como entrar em um mundo pelo avesso, em um mundo onde as coisas eram ao contrário e ali estava eu no meio da avenida com grandes presentes da minha vida, uma grande amiga Crisa Santos, o Jaguadarte de um escritor do século XIX que me inspirou no século XXI, minhas jóias, minha história no Fim do Mundo e o começo de tudo. 
Os brincos foram confeccionados em ouro amarelo, diamantes e dendritas. Assim que vi estas dendritas eu me lembrei do jaguadarte e das poesias de espelho escritas para Alice por Lewis Carroll, de um lado o por-do-Sol fazendo "briluz" e do outro o próprio Jaguadarte.


O Jaguadarte

Era briluz.
As lesmolisas touvas roldavam e reviam nos gramilvos.
Estavam mimsicais as pintalouvas,
E os momirratos davam grilvos.
"Foge do Jaguadarte, o que não morre!
Garra que agarra, bocarra que urra!
Foge da ave Fefel, meu filho, e corre
Do frumioso Babassura!"
Ele arrancou sua espada vorpal e foi atras do inimigo do Homundo.
Na árvore Tamtam ele afinal
Parou, um dia, sonilundo.
E enquanto estava em sussustada sesta,
Chegou o Jaguadarte, olho de fogo,
Sorrelfiflando através da floresta,
E borbulia um riso louco!
Um, dois! Um, dois! Sua espada mavorta
Vai-vem, vem-vai, para trás, para diante!
Cabeça fere, corta e, fera morta.
Ei-lo que volta galunfante.
"Pois então tu mataste o Jaguadarte!
Vem aos meus braços, homenino meu!
Oh dia fremular! Bravooh! Bravarte!"
Ele se ria jubileu.
Era briluz.
As lesmolisas touvas roldavam e relviam nos gramilvos.
Estavam mimsicais as pintalouvas,
E os momirratos davam grilvos.

(Tradução do "Jabberwocky" por Augusto de Campos)  








Carroll foi escritor, matemático, fotógrafo amador e também criador de muitos jogos de palavras, um deles chamado de "doublets", publicado pela primeira vez em 1879 pela revista Vanity Fair. Com uma palavra podemos escrever outras, no entanto mudando apenas uma sílaba por vez e de "DOOR" posso obter "LOCK".


DOOR
BOOR
BOOK
LOOK
LOCK

Além do talento como escritor, Carroll foi reconhecido como um excelente fotógrafo, principalmente pelos seus retratos da atriz Ellen Terry, do poeta Alfred Lord Tennyson e do poeta e pintor Dante Gabriel Rossetti, entre outros. As fotos de crianças também se destacaram em sua obra, principalmente os ensaios de nudez, que mais tarde provocaram várias polêmicas. Abaixo temos a foto que Lewis Carroll tirou da garota Alice Liddell, filha de um de seus amigos. Foi ela que o inspirou a escrever Alice no país das Maravilhas. 



Alice no País das Maravilhas nos revela um mundo conhecido e lógico e à partir da sua queda na toca do coelho abre-se para o mundo da Teoria do Caos.  Nonsense? Nada disparatado ou sem nexo, muito pelo contrário da palavra repetida milhares de vezes no filme da Disney pela garotinha.
Considero este livro um dos grandes enigmas da modernidade, erradamente apresentado como "literatura infantil", na verdade o enxergo de forma tão séria e outros pesquisadores também, que até inspirou Alice no País do Quantum de Robert Gilmore  em sua divertida alegoria pela terra da física quântica e acreditem, o professor Gilmore torna absolutamente acessível o mundo da física aos leitores.


Através dos personagens malucos Carroll nos fala de física, psicologia e comportamento social.

Chapeleiro Louco: ele está o tempo todo tomando chá com a Lebre Maluca, afinal para ele é sempre seis da tarde, a hora do chá (o uso de mercúrio na fabricação de chapéus era uma das causas de loucura dos trabalhadores expostos por longo tempo a ele);

Gato de Cheshire: um gato irônico e sorridente que pode desaparecer e reaparecer a qualquer momento (Cheshire é o nome do condado inglês onde Carroll passou sua infância e famoso pelo seu queijo);


Lagarta: uma espécie de guru que fica sentado em cima de um cogumelo fumando coisas misteriosas através de um narguilé;

Rainha Vermelha: a louca tirana que governa o País das Maravilhas é uma representação do adulto que perdeu os sinais de civilidade e comporta-se de forma oposta a Alice (apesar de suas ordens para que “cortem a cabeça” dos seus desafetos serem firmes, isso nunca acontece).







Quem é que não se lembra de assistir aos clássicos de Walt Disney aos domingos na casa da vovó? Este era o meu caso... uma vovó deliciosa e japonesa, uma fofura, que sempre assistia desenhos e filmes  comigo.
Alice no País das Maravilhas estava lá...e isto me encatava porque ela não era tonta como a Cinderela ou a Branca de Neve ou a Bela Adormecida, ela era curiosa, investigativa, caiu na toca do coelho, fazia e acontecia na aventura toda. Hum, pensava eu: - Essa aí é igual a mim. E olha que eu não me referia apenas ao signo da inspiradora da personagem Alice.  A própria Alice Liddell fazia aniversário dia 4 de maio, acho que o chá da tarde oferecido pelo Chapeleiro Maluco era também uma comemoração.
 Alice é assim, ela quer tudo ao mesmo tempo, se aventura por aí para conhecer tudo e todos, experimentar a vida vestindo-se de poder.

Quando fazia faculdade assisti a um filme musical com a Barbra  Streisand que me impressionou muito, se chamava, Yentl. Me lembrei daquela menina sentada em frente da TV Telefunken com sua avó japonesa, uma das primeiras imigrantes a chegarem ao Brasil, embora aparentemente as quatro: eu , minha avó Ushy, Alice e Yentl (Anshel) "aparentemente"nada nos relacionava, no entanto, tínhamos tudo em comum. A essência da busca eterna de conhecimento e poder às mulheres através da libertação psicológica. Na estranha loucura destas quatro meninas pude perceber que a loucura é também a genialidade proposta pelo pai de Alice na estória de Carroll e bradada pelo Gato muito sorridente.





"I Am the Walrus" é uma canção dos Beatles composta por John Lennon, creditada a dupla Lennon-McCartney, e lançada no álbum Magical Mystery Tour de 1967. esta é uma das músicas mais complexas dos Beatles.
John Lennon escreveu parte da letra, segundo ele, em duas distintas "viagens" de ingestão de drogas. Alguns versos foram escritos após John Lennon ler que um professor de sua antiga escola, Quarry Bank Grammar School, estava utilizando as letras das músicas dos Beatles para as aulas de inglês. Então ele escreveu alguns versos totalmente sem sentido para confundir os que fossem utilizar esta canção para análise.
A música é a junção de três diferentes canções que John resolveu fundir em uma. A primeira, é inspirada em uma sirene de ambulância: "I-am-he as you-are-he, "Mis-ter cit-y police-man" . A segunda, inicia-se no verso:"Sitting in a english garden...". A terceira, é a mistura da letra que ele escreveu para confundir os gramáticos.

O trecho que John se refere de A Morsa e o Carpinteiro, foi retirado de Alice do outro lado do Espelho (1872) – continuação de Alice no País Das Maravilhas (1865):

“As Ostras gritaram: 

Vão nos devorar?

Não façam! Piedade! Nós somos amigas! Não podem matar

Depois da conversa e passeio: é maldade!  

-E a Morsa responde, com sinceridade:

Gostaram da visita não foi?

Chorei por vocês

– a Morsa falou -Com profunda simpatia. Aos soluços, fungando, ela devorou

As ostras maiores que via! 

-E, nos intervalos, seu lenço trazia

E secava suas Lágrimas! ..."


A letra é, como um todo, sem sentido. Inúmeras interpretações vem sendo dadas ao longo dos anos para entendê-la. Walrus significa "morsa".

                http://www.online-literature.com








Um comentário:

Louis Alien disse...

Maira, você é da hora mesmo.
descobri o blogue quando procurava o jaguadarte na net. sou poeta e participo de saraus e esse poema é divertido pacas. no teu post vc coloca bastante informações legais de se saber. e ainda me coloca "i am the walrus" dos beatles!!! sensacional!
estou seguindo teu blogue!

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